Tradução da introdução ao capítulo 06, “The American
Indian Aesthetic”, do livro Celluloid Indians: Native Americans and Film, de
Jacquelyn Kilpatrick (Lincoln and London: University of Nebraska Press, 1999)
Este
e o ponto aonde chegamos enquanto cineastas indígenas. Nós queremos começar a
participar e a desenvolver uma estética indígena. Pois de fato existe uma coisa
chamada estética indígena, que começa no sagrado. (Victor Masayesva Jr., citado
em “Uma estética indígena: dois videomakers notáveis”, de Steven Leuthold.)
Ao
longo de toda a história do cinema, os ameríndios têm servido como uma espécie
de vale-tudo para as correntes sociais e políticas. Richard Hill notou que a
imagem do índio muda a cada geração. Observando a mídia impressa atual, Hill
delineou as seguintes visões e usos contemporâneos que se fazem dos ameríndios:
- - A imprensa
alternativa usa os índios para atacar o capitalismo e o racismo, utilizando-se
das lutas desses povos pelos seus direitos para “atuar para a esquerda radical,
para os Yuppies de centro, e para as crianças desassistidas da direita rica.”
- - A imprensa
ambientalista tenta desacreditar o “mito” do conservacionista natural, dizendo:
“Não se engane. As tribos estão se transformando. Eles pretendem reivindicar o
máximo de terra – sua terra – que conseguirem, e planejam comercializar nossos
peixes e nossos recursos de caça...” (Como bem chama a atenção Hill, isso soa como
algo que índios poderiam ter dito a respeito dos colonizadores.)
- - A imprensa new age transformou os índios em
símbolos de espiritualidade de todos os tipos.
- - A imprensa
conservadora quer acabar com os tratados, alegando que os índios são caros
demais para serem mantidos.
- - Nos jornais
tradicionais, os estereótipos estão em toda parte: os índios são
desqualificados, alcóolatras, mal-educados e têm uma saúde precária. A Time Magazine disse que os índios “estão
à deriva em seu próprio país.”
Essas
imagens da imprensa são muito similares àquelas que encontramos na maioria dos
filmes. O resultado é uma imagem muito confusa dos ameríndios. Se alguém
escolhe ser exageradamente otimista, é possível que pense que isso é uma coisa
boa. Talvez confusão seja melhor que certeza, quando a certeza é baseada em
falácias.
No
final do século XX, “simpatia” pelos ameríndios, por diferentes e às vezes
estranhas razões, existe de um modo geral; mas os diretores do maintream hollywoodiano que tentaram
retratar essa simpatia falharam de várias maneiras em mostrá-los
realisticamente. Suas falhas podem ser parcialmente explicadas pelo vácuo
cultural e comunicacional entre os diretores e os povos que eles retratam. Deve
parecer aos diretores que, contando ou não uma história sobre os índios, eles
já estariam condenados de qualquer maneira. Conte uma história sobre um casal mestiço
que não pode viver junto – e isto é racismo. Conte a mesma história e deixe-os
viverem felizes para sempre – e a história se torna uma forma mortal de
assimilação. Mostre os índios como caras bons – e você está produzindo o
estereótipo do bom selvagem. Mostre os índios como sanguinários – e você mesmo
poderá virar tema de filme em Hollywood.
Talvez
o problema seja contar histórias sobre
índios. E que tal as histórias que os índios contam sobre eles mesmos? Eles
estariam aptos a trazer exatidão histórica, cultural e emocional sobre suas
próprias vidas e culturas para uma mídia criada pela cultura hegemônica? A
mídia cinematográfica é realmente, como afirma Elizabeth Weatherford, “uma
extensão lógica da comunicação oral e visual da cultura tradicional dos
ameríndios?” Caso afirmativo, podem as histórias que os ameríndios contam ser realmente
interessantes para um público majoritariamente comercial, uma vez que
privilegiam o outro: a voz nativa?
A
resposta é “sim” – elas podem. De qualquer modo, só agora isto está se tornando
possível, porque apenas recentemente tem-se encontrado ameríndios em todas as áreas
da cinematografia profissional. Apenas recentemente tem se tornado possível
formar uma equipe composta de ameríndios em funções como as de roteirista,
diretor, produtor e ator.
Tradução: Charles Bicalho
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