22 de dez. de 2013

Tradução: Pensando pensamentos indígenas (filme e contação de histórias)

Publicamos aqui a tradução de fragmentos da introdução ao livro Wiping the war paint off the lens - native american film and video, de Beverly Singer.
Beverly é do Pueblo de Santa Clara no estado do Novo México, Estados Unidos. É realizadora audiovisual e professora de estudos interculturais na Universidade do Novo México.
Intitulada "Pensando pensamentos indígenas" a introdução ao livro de Singer relaciona o fazer filmes à contação de histórias.
Boa leitura!

Uma das questões mais importantes referentes aos índios americanos é a identidade: O que é um índio? A representação enganosa do “índio” tem estado fora do controle tribal e vem sendo perpetrada por instituições americanas de cultura, política, acadêmicas e sociais, que promovem, produzem e comunicam informação ao público. Índios vêm sendo enganosamente representados em arte, histórias, ciência, literatura, filmes populares, e pela imprensa em notícias, no rádio e na televisão. Os estereótipos mais antiquados associando índios a seres selvagens, nus e ignorantes foram estabelecidos com a fundação da América e determinados por dois fatores: intolerância religiosa por diferenças culturas e espirituais, levando à destruição de culturas nativas, e rejeição das culturas indígenas, como se elas fossem desprovidas de relevância, pelos historiadores tradicionais que escrevem a história dos Estados Unidos.
            A desapropriação da presença indígena, acompanhada pelo movimento dos pioneiros em direção ao oeste e visto como a principal vitória americana, foi o resultado de uma batalha dos brancos por independência econômica, política, social e religiosa. A ideologia do “Destino Manifesto” foi a propaganda usada contra os índios para justificar nosso extermínio. O escritor mestiço D’Arcy McNickle (pertencente à tribo dos Flathead) chama a atenção para o fato de que “até a terceira década do presente século a política indigenista era enraizada na ideia de que os índios desapareceriam”. A percepção duradoura dos índios como inimigos que tendem à extinção facilitou o caminho para qualquer um criar estereótipos  relativos aos índios e excluir qualquer tratamento sério ou estudo sobre nós. Desafiado por esta história desfavorável, este livro se baseia no conhecimento e na interpretação de pessoas nativas que têm trabalhado para compartilhar da totalidade da história americana em nossas imagens.
            Este estudo é fruto de meu interesse na contação de história tribal como um modo de transferência de informação cultural e em sua interseção com o crescimento do número de realizadores audiovisuais nativo-americanos. Ao longo dos últimos vinte anos nativo-americanos têm feito alguns filmes e vídeos extraordinários. Minha discussão desses filmes e vídeos se deve à condição e experiência de ser eu mesma tanto nativo-americana quanto realizadora audiovisual. Como realizadores audiovisuais nativo-americanos, nós temos batalhado para fazer nossos filmes, lutando contra recursos limitados e para desfazer estereótipos populares que nos apresentam como não inteligentes e sempre se referindo a nós antes no passado do que como pessoas que habitam o presente. O que realmente importa para nós é que somos hábeis para contar nossas histórias, em qualquer forma que escolhemos. Com isso não quero dizer que os brancos não possam contar uma boa história indígena, mas até bem recentemente os brancos – excluindo os nativo-americanos – têm sido as únicas pessoas com o suporte necessário e reconhecimento da sociedade para contar histórias indígenas usando a mídia cinematográfica.
            A oportunidade para remediar a falta de literatura sobre a narração de nossas próprias histórias é profundamente conectada ao fato de termos autodeterminação enquanto indígenas. É parte de um movimento social que eu chamo “soberania cultural”, que envolve acreditar nos modos antigos e adaptá-los às nossas vidas no presente. Esses direitos e tradições incluem defender nossos direitos de nascença, como acordados em tratados, falar nossa língua tribal, praticar os métodos ancestrais de cultivar alimentos, como pescar com lanças e caçar baleias, coletar ervas medicinais, e usar animais e pássaros para fins cerimoniais.
            Nossos filmes e vídeos estão ajudando a nos reconectar com relações e tradições muito antigas. Realizadores audiovisuais indígenas transmitem crenças e sentimentos que ajudam a reviver a contação de histórias e restaurar as velhas fundações. Fazendo nossos próprios filmes, seja como for, nativo-americanos ameaçam práticas tradicionais de realizadores hollywoodianos, que normalmente tiram proveito em suas carreiras criando imagens distorcidas e desonestas dos índios. Em minha própria experiência como realizadora, eu tenho sentido às vezes como se eu estivesse invadindo a profissão mais entranhadamente branca.
Um elemento fundamental de meu trabalho é que eu evito usar categorias tradicionais para discutir filmes e vídeos indígenas. Termos que identificam filmes como “vanguarda”, “documentário”, ou “etnográfico”, limitam o entendimento e a informação contida nos filmes e vídeos indígenas, e não são categorias naturais de acordo com nossa experiência. Ao evitar comparações entre culturas ameríndias e termos culturais branco-euro-americanos dominantes, este estudo avança no diálogo sobre a influência da cultura nativa na realização de filmes. A estrutura social e os sistemas de crenças nativos são diferentes do método científico euro-ocidental de obter dados visando resolver um problema. Seja qual for o rótulo – aborígene, ameríndio, nativo-americano – nós estamos cansados de ser referidos como o “problema indígena”. Portanto, minha solução começa com uma “solução indígena”.
A tradição oral é fundamental para se entender o filme e o vídeo indígena, e como nos experimentamos a verdade, transmitimos conhecimento, compartilhamos informação, e sorrimos. A prática de contação de histórias tradicionais dos nativo americanos e suas histórias orais são uma chave mestra para a recuperação de nossa identidade autêntica. Leslie Marmon Silko (escritor Laguna) acredita que a habilidade para se contar histórias é um modo de vida dos Pueblos (povos indígenas do sudoeste norte-americano). Ela acredita que histórias antigas, assim como as histórias ainda inéditas, pertencem à mesma fonte criativa, que mantém as pessoas unidas. Além do mais, ela afirma que “a história de origem funciona basicamente como um formador de identidade: com a história, nós sabemos quem somos.” Simon Ortiz (Acoma Pueblo) escreve que em sua experiência o poder das histórias – tal como as histórias de origem compartilhadas pelas pessoas do Pueblo – são aquelas palavras recebidas de um contador de histórias e que “seguem seu próprio caminho”. Criar uma história assim se torna uma linguagem de experiência, sensação, História e imaginação. A contação de histórias hoje em dia continua a prática de uma arte que remonta a incontáveis gerações passadas e garante que as histórias sejam levadas ao futuro.
Que a tradição oral é um processo contínuo de envolvimento é visível nos filmes e vídeos aborígenes e nativo americanos, que são extensões do passado em nossas vidas correntes. Além disso, a contação de histórias pode também nos conectar ao universo da medicina – de poderes paranormais ou sagrados. Contadores de histórias são tidos em alta conta por terem o poder de curar o espírito. Uma das razões de se fazer filmes é curar as rupturas do passado, reconhecendo que aquele que vê é o grande responsável por essa cura.

Tradução: Charles Bicalho

11 de nov. de 2013

Festival Pachamama


Kotkuphi e Xupapoynãg, dois filmes de Isael Maxakali, estão na Mostra Competitiva de Cine Comunitário Stefan Kaspar, do IV Festival Internacional Pachamama - Cinema de Fronteira. Infos adicionais no site: http://cinemadefronteira.com.br/.

26 de out. de 2013

V CineCreed

Xupapoynãg, filme de Isael Maxakali, produção da Pajé Filmes, foi selecionado para a mostra competitiva do V CineCreed – Mostra de Filmes Digitais. Produzido pelo Programa Exibição de Cinema Social (PRECISO), o evento acontece ao ar livre na área prisional do Centro de Reeducação da Polícia Militar de Pernambuco (CREED), localizada no bairro de Caetés II, município de Abreu e Lima, estado de Pernambuco, nos dias 22, 23 e 24 de novembro de 2013
O CineCreed concede prêmios nos valores de R$ 1000,00, R$ 600,00 e R$ 400,00 respectivamente para primeiro, segundo e terceiro lugares.
Maiores informações com os coordenadores do PRECISO – Programa Exibição de Cinema Social no site www.precisope.com.br, ou pelo e-mail precisope@hotmail.com.

13 de out. de 2013

Festival Internacional de Cine y Video Mapuche y del Abya Yala - Fantepu



"Xupapoynãg", filme de Isael Maxakali, produzido pela Pajé Filmes, foi selecionado para participar da primeira edição do Festival Internacional de Cine y Video Mapuche y del Abya Yala - Fantepu, que acontecerá na cidade de Temuco-Wallmapu, no Chile, de 4 a 9 de novembro de 2013.
Maiores informações no site do Festival: http://fantepuvideomapuche.blogspot.com/.

18 de set. de 2013

First Nations Film and Video Festival


"Kotkuphi" e "Xupapoynãg", dois filmes de Isael Maxakali, produzidos pela Pajé Filmes, foram selecionados para participar do First Nations Film and Video Festival, que acontece de 01 a 10 de novembro deste ano em Chicago, EUA. Com a missão de quebrar estereótipos raciais e culturais e promover a consciência sobre o Ameríndio contemporâneo, o Festival exibe filmes de gêneros variados, incluindo terror e ficção científica. Maiores informações podem ser encontradas no blog do Festival: http://www.fnfvf.org/blog/.

6 de set. de 2013

Muestra de Cine y Video Indígena Daupará 2013



Kotkuphi, filme de Isael Maxakali, produzido pela Pajé Filmes, foi selecionado para fazer parte da Muestra de Cine y Video Indígena Daupará 2013, que acontece de 14 a 17 de novembro em Bogotá, Colômbia.
Maiores informações sobre a Mostra devem ser encontradas no site http://daupara.org/.

16 de jul. de 2013

XXIV Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo


XUPAPOYNÃG, filme de Isael Maxakali, produzido pela Pajé Filmes, foi selecionado para o XXIV Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, que acontece de 22 a 30 de agosto. Organizado pela Associação Cultural Kinoforum, o Festival é um dos maiores e mais tradicionais eventos dedicados ao formato de curta metragem no mundo. "Xupapoynãg" fará parte da Mostra Online Kinooikos.
Maiores detalhes e programação completa podem ser acessados no site do Kinoforum: http://www.kinoforum.org.br/curtas/2013/

17 de jun. de 2013

7º MUESTRA DE CINE + VÍDEO INDÍGENA



"Xupapoynãg" e "Kotkuphi", dois filmes de Isael Maxakali, produzidos pela Pajé Filmes, foram selecionados para a 7mª Muestra Cine + Video Indígena, que se realizará entre os dias 20 e 28 de junho nas salas da Cineteca Nacional no Centro Cultural La Moneda em Santiago no Chile. A mostra é promovida pela Cineteca Nacional e o Museo Chileno de Arte Precolombino e reúne 83 trabalhos audiovisuais relativos ao mundo indígena americano.
Maiores informações e programação completa no site do Museo Chileno de Arte Precolombino:
http://www.precolombino.cl/museo/noticias/7ma-muestra-de-cine-y-video-indigena/

31 de mai. de 2013

Asinabka Film & Media Arts Festival



Xupapoynãg, filme de Isael Maxakali, foi selecionado para participar do Asinabka Film & Media Arts Festival, festival de cinema indígena que acontece em Ottawa, no Canadá, de 24 a 28 de julho. O filme fará parte de um programa chamado "Mulheres Valentes", e será exibido em auditório da Galeria Nacional do Canadá no sábado, 27 de julho.

Maiores informações e programação completa sobre o Cinema Indígena do Asinabka Festival no site: http://asinabkafestival.org/FILMS.html

26 de abr. de 2013

O pajé

"O pajé foi o primeiro guardador de sonhos, o primeiro artista, o primeiro poeta, o primeiro caçador, o primeiro doutor, o primeiro dançarino, cantor e professor. Se por um lado o pajé personifica o artista visionário arquetípico, tais potencialidades se conformam em todos e cada um de nós: cada homem, cada mulher e cada criança. Os indígenas entenderam e honraram esse potencial, esse chamado, como uma parte integral do aprendizado, do ser, e do tornar-se completo."

Do livro "Look To The Mountain", de Gregory Cajete, índio Tewa do Pueblo de Santa Clara no Novo México, Estados Unidos. Diretor de Estudos Nativo Americanos na Universidade do Novo México. 

7 de abr. de 2013

"Os mitos são
uma espécie de nostalgia
da comunicação perdida."
Viveiros de Castro

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/12/antropologia-renovada/

4 de mar. de 2013

Simpósio sobre Direitos Humanos

A Pajé Filmes participará, no próximo dia 07, de Simpósio sobre Direitos Humanos na Universidade do Novo México, onde serão exibidos e debatidos dois filmes de Isael Maxakali: "Kotkuphi" e "Xupapoynãg".

Maiores informações sobre o Simpósio:

Human Rights Symposium
Human Ecologies of Ethnicity, Race and Memory in Human Rights Discourse
March 7th & 8th, 2013

Please join us on March 7th and 8th in the Willard Room of Zimmerman Library on the University of New Mexico Albuquerque campus for our first annual Human Rights Symposium.  The symposium will confront three pivotal issues in contemporary human rights: memory and transitional justice; indigenous and environmental rights and race and human rights.  On March 7th, cultural critics Rebecca Atencio (Tulane University) and Idelber Avelar (Tulane University), internationally renowned Afro-Brazilian writer Ana Maria Gonçalves, and Brazilian scholar and filmmaker Charles Bicalho will address the aforementioned issues vis-à-vis human rights.  On March 7th in the evening Dr. Charles Bicalho will screen Kotkuphi (2011) and Xupapoynãg (2011). On March 8th, selected graduate student papers will be read on a variety of issues that confront themes of human rights.

March 7th
2 – 4 Willard Room
·      Rebecca Atencio: “A Reading of Brazil’s 1st State-Sponsored Report on Dictatorship-era Political Deaths & Disappearances”
·      Ana Maria Gonçalves: “Racism and Human Rights”

4 - 6 Willard Room
·      Idelber Avelar: “Non-Human Rights: Amerindian Perspectivism and the Critique of Anthropocentrism”
·      Charles Bicalho: “Native American Filmmakers and Their Right to Modernity”

6-7 Waters Room
·      Film Screening of Kotkuphi (2011) and Xupapoynãg (2011) with Charles Bicalho

March 8th:
2-3:10
·      Marina Todeschini: “Moral Restoration Through Transitional Justice: A Comparison Between Argentina, Chile and Brazil”
·      Samuel Johnson: “Revolution and Religion: Liberation Theology and El Salvador's Civil War”
·      Amanda Hooker: “Enacting Citizenship Through Social Mobilization: The Nasa People's Struggle for Rights and Autonomy”
·      Fiorella Vera Adrianzen: “Urban Mobilization in Solidarity with Amazonian Indigenous Peoples”
3:10-3:40
Discussion

3:40-4:30
·      Viviane Faria “O menino que se trancou na geladeira: A Panoramic Picture of a Nation!”
·      Ailesha Ringer: “Inverting and Supporting Brazilian Racial Stereotypes in: A Casa de Alice”
·      Juliana Todescan: “Gender Relations in Brazil and Their Representation in A casa de Alice”
4:30-5
Discussion

30 de jan. de 2013

Pajé Filmes e UNM: Encontros do Novo Mundo

 

A Pajé Filmes realizou sessões comentadas de dois filmes de Isael Maxakali, dentro da programação do curso "Encontros do Novo Mundo", ministrado pela Professora Margo Milleret, do Departamento de Espanhol e Português da Universidade do Novo México.
 


Os filmes exibidos e debatidos foram "Kotkuphi", exibido no dia 23/01, e "Xupapoynãg", exibido no dia 28/01. O curso é voltado a alunos de graduação e pós-graduação da Universidade.