22 de out. de 2009

Pajé Filmes é "batizada" por Ibã Kaxinawá


A Pajé Filmes recebeu ontem a ilustre presença de Isaias Sales Ibã. Ibã, da etnia Huni Kui (Kaxinawá) do Acre, veio a Belo Horizonte para participar de um evento de pesquisa do Literaterras. Aproveitando a ocasião, o convidamos para conhecer a Pajé Filmes. Seu filme "Huni Meka - os cantos do cipó" foi exibido na I Mostra Pajé de Filmes Indígenas.
Ibã é parte de uma linhagem de cantores da tradição kaxinawá (seu avô e seu pai eram cantores e agora ele mesmo transmite a seus filhos a força do canto). E foi pelo canto que ele prestou uma homenagem à Pajé. Numa espécie de batizado para nós, Ibã, que disse se sentir em casa em nosso espaço, cantou "Nîhêwã Puskenê", que quer dizer "a floresta estremece", cuja letra é: "árvore grande/com folhas novas/vem um vento forte/leva as folhas velhas, secas/deixa as folhas novas".

Para assistir ao vídeo com o canto de Ibã na Pajé, acesse o link:
http://www.youtube.com/watch?v=u5jtSWtnqv0

16 de out. de 2009

ALDEIA GLOBAL

"Vivemos uma época propícia para esse tipo de trânsito entre os sentidos, de certa forma, uma religação dos sentidos do homem. Não no sentido religioso, mas no sentido pagão mesmo. Uma comunidade indígena não diferencia linguagens como nós fazemos. Lá a música está sempre ligada à dança, ao culto, enfim, não há separação entre arte e vida. Essa distinção foi criada pelo homem civilizado ao longo da história e, de certa forma, a modernidade resgata um pouco desse espírito tribal, de aldeia. Imagino que seja este um dos sentidos a ser atribuído hoje à expressão 'aldeia global', de McLuhan."
Arnaldo Antunes em entrevista ao Boletim UFMG de 05/10/09.

Programa Rede Mídia da TV Minas - O audiovisual indígena - 15/10/09




15 de out. de 2009

Programa Rede Mídia da TV Minas sobre o cinema indígena


Vai ao ar hoje às 22 hs o programa Rede Mídia da TV Minas sobre o cinema produzido por índios. Com participação de Glayson Caxixó (diretor de "Casca do Chão"), Rubem Caixeta (antropólogo da UFMG) e Rafael Fares (da Pajé Filmes), o programa foca a produção atual dos índios e menciona a Mostra Pajé de Filmes Indígenas. Exibe também matérias com a Profa. Maria Inês de Almeida (do Literaterras/UFMG), Charles Bicalho (da Pajé) e trechos dos filmes produzidos por índios mineiros.
O Rede Mídia tem reprise no domingo às 20:30 hs.
Confiram versão para internet do programa:
http://www.youtube.com/watch?v=pJ4TfCdAx8I

8 de out. de 2009

Exibição de "Presente dos Antigos" na TV Minas


Temos o prazer de divulgar a exibição do filme "Presente dos Antigos" (2009), realizado com o povo Xacriabá e dirigido por Ranisson Xacriabá. A realização foi coordenada por Rafael Fares em parceria com Pedro Portella através do programa DocTv.
O filme, que mostra a revitalização da cultura Xacriabá com base nas pinturas rupestres encontradas nas cavernas do Vale do Peruaçu, será exibido às 23 hs no dia 8 de outubro na Rede Minas. E para outros estados, ver abaixo link da Rede Minas:
http://www.redeminas.tv/Cmi/Pagina.aspx?464.

1 de out. de 2009

O Brasil e a Mostra Pajé - Por Marcos Henrique Coelho


Se qualquer um de nós for ao Museu de Biologia (ou História Natural?) de Nova Iorque e, ao encontrar lá uma folhinha qualquer, oriunda de uma floresta da "cazaquismênia", por exemplo, poderemos ficar orgulhosos ao constatar que seu nome científico estará grafado em latim. Pode haver ainda, junto a ele, o "nome popular" em hebraico, inglês, espanhol, "slavo" ou português, mas o nome "científico", este estará escrito em latim.
Se considerarmos que a marca mais forte do processo de colonização é a substituição e a imposição da língua do colonizador ao colonizado, devemos ficar orgulhosos, porque tal grafia em latim significa que o colonizador "neogermânico" não levou a cabo o processo de colonização dos povos "latinos", ao contrário do que é comumente divulgado por aí.
No último dia da Mostra Pajé de Filmes Indígenas tivemos o prazer de receber no escritório da Pajé Filmes o simpático casal Sueli e Isael Maxakali, conversando entre si em sua língua nativa. Confesso que fiquei prestando atenção naquela cena, tomado de satisfação e alegria, porque se consolidou minha convicção de que os "povos da floresta" – apenas para pegar carona na sábia expressão de Djalma Caxixó, Cacique desta etnia mineira – , que também nos representam enquanto brasileiros, jamais verão plenamente concretizado o seu processo de colonização.
É isto! Que se repercuta a diretriz para que os "povos da floresta" jamais abandonem sua língua original, além de outras tradições, é claro.
Para mim, continua a constituir-se um misto de mistério e estranheza, a expressão pictórica e iconográfica destes povos. Ao assistir seus filmes, começo a perceber que eles interferem e alteram contundentemente o conceito "clássico", porque de origem e estrutura aristotélicas, de representação da realidade que adotamos para nossa (não indígena, "ocidental") expressão audiovisual.
Bem, este é apenas o início ambíguo do caminho, no universo de várias especulações que podem surgir a partir deste contato um pouco mais aprofundado com as experiências audiovisuais dos "povos da floresta" e sua expressão imagética. Muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte... Há mais perguntas do que repostas, certamente.
Após ajudar a organizar a 1ª Mostra Pajé de Filmes Indígenas, sou obrigado a me perguntar: "Afinal, onde fica esse tal Brasil, do qual todos nos orgulhamos durante os discursos-inflamados e as Copas do Mundo? Onde fica esse Brasil, do qual todos nós nos orgulhamos e que trata tão preconceituosamente os habitantes originais de sua terra?"
Cabe gastar tempo para pensar no assunto.

Belo Horizonte, setembro de 2009