27 de out. de 2018

Takumã Kuikuro, cineasta



O Globo, Página 2, p. 2 - 13/11/2017
Takumã Kuikuro, cineasta: "Queremos registrar nossa cultura"
Documentarista veio ao Rio com outros membros de sua aldeia participar do festival Multiplicidade, no Oi Futuro Flamengo

Daniel Salgado

Últimas de Conte algo que não sei
"Tenho 34 anos e sou membro da etnia indígena Kuikuro, do Alto Xingu. Trabalho com audiovisual há mais de uma década, e já gravei diversos longas e curtas-metragens, entre eles o documentário 'As hiper mulheres'. Além disso, também faço projetos para levar o audiovisual a outras aldeias da região."

Conte algo que não sei.
Nós costumamos assistir a filmes de outras comunidades na nossa própria aldeia. Tentamos colocar, sempre que possível, um telão para que todo mundo os veja. Não são filmes americanos, normalmente. Mas o primeiro filme a que assisti, em 1996, foi um do Bruce Lee, justamente quando estava em reclusão para me tornar um lutador.

Como você e a sua comunidade começaram a trabalhar com cinema?
Foi em 2000, com a chegada de uma equipe de antropólogos na minha aldeia, dos Kuikuro, que fica no Xingu. Lá, eu e alguns outros começamos a aprender a mexer nos equipamentos de vídeo que eles trouxeram. Mas ainda levaria anos até que nos acostumássemos e produzíssemos nossas próprias obras. Durante esse processo, por exemplo, tive que aprender português para facilitar meu domínio das câmeras. O primeiro filme só saiu em 2002, com a chegada do projeto Vídeo na Aldeia.

E como foi a aceitação das filmagens dentro da aldeia?
Foi difícil. Em um filme que fizemos sobre um eclipse, quisemos registrar os rituais, as danças e os hábitos da aldeia durante o evento. Mas houve muita resistência por parte dos outros, que não estavam acostumados em serem filmados. Por isso, tivemos que começar gravando nossos familiares. No fim das contas, quando mostramos o resultado, todos se abriram e abraçaram o projeto.

Como o cinema impacta o dia a dia dos Kuikuro?
Ajuda muito, mesmo, na preservação da nossa cultura. Com o tempo e a aceitação da comunidade, chegamos a formar um coletivo Kuikuro de cinema para todas as aldeias da nossa cultura. A partir dele, nosso cacique nos fez um pedido: ele estava preocupado com a falta de interesse dos jovens pelas nossas tradições e pediu que as registrássemos para que não se perdessem com o tempo. Então, gravamos dezenas de horas de cantos, danças e outras práticas da nossa cultura.

E os jovens passaram a se interessar?
Sim, com certeza! Hoje, muitos dos jovens da aldeia buscam saber diretamente das nossas tradições através destes filmes e registros. Como gravamos em 2005, mostramos a eles o que acontecia há quase uma década, e eles estão demonstrando um interesse renovado.

O cinema também serve de ponte entre as diversas comunidades do Xingu?
Cada vez mais. Na minha volta do Rio de Janeiro, quando vim para estudar, fizemos exibições dos filmes Kuikuro em outras nove aldeias. E elas se interessaram tanto que já nos pedem para gravar suas memórias. Atualmente, estamos oferecendo oficinas em outras comunidades para aumentar essa produção.

E que histórias você gostaria de contar que ainda não teve a oportunidade?
Estou pensando principalmente em duas. Primeiro, contar a vida dos indígenas que saem das aldeias para morar na cidade grande, entender suas rotinas. Além disso, mostrar as brigadas indígenas que estão sendo formadas nos últimos tempos para combater incêndios florestais no Xingu. Muita gente diz que indígena não trabalha. Através do nosso cinema, queremos mostrar que isso é mentira. Queremos registrar nossa língua, nossa cultura. Promover uma troca de olhares.

O Globo, 13/11/2017, Página 2, p. 2

https://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/takuma-kuikuro-cineasta-queremos-registrar-nossa-cultura-22057009

2 de out. de 2018

James Young Deer




James Young Deer (1876-1946), também conhecido como J. Younger Johnson ou Jim Young Deer, nasceu na verdade James Young Johnson, em Washington, DC, nos Estados Unidos.
Tornou-se ator, diretor, roteirista e produtor. Acredita-se que seja o primeiro indígena diretor e produtor em Hollywood.
Junto com sua esposa e parceira, Lillian St. Cyr (Winnebago, Nebraska), eram considerados uma “força influente” (“influential force”) na produção dos primeiros filmes de western no período do cinema silencioso. Seus filmes, bem como outros do período, eram notáveis por retratar os índios positivamente.
Ainda que fosse identificado nos primeiros filmes em Hollywood como sendo do povo Winnebago, de Nebraska, seus ancestrais eram na verdade do povo Nanticoke, do estado de Delaware.
Young Deer entrou para a Marinha dos Estados Unidos em 1898, onde permaneceu por três anos durante a Guerra Hispano-Americana, mas aparentemente se desiludiu com o “grande preconceito” da instituição.
Trabalhou no Wild West Show de Buffalo Bill.
Deer começou a atuar em 1909 em Nova York em filmes western. Kalem, Lubin, Vitagraph e Biograph estavam entre as companhias cinematográficas para as quais trabalhou. Trabalhou também para a New York Motion Pictures Company, uma das primeiras produtoras independentes dos Estados Unidos.
Em 1910 foi contratado pela companhia francesa Pathé Frères, que tinha uma filial em Jersey City e sofria críticas por seus filmes apresentarem uma visão pouco realista do velho oeste. Young Deer fora contratado então para produzir os filmes de temática indígena e acabou chefiando as operações do West Coast Studio no distrito de Edendale, em Los Angeles. Atuou, roteirizou, dirigiu e produziu aproximadamente 150 filmes na Pathé West Coast Studio.
Em 1910, um quinto dos filmes nos Estados Unidos eram westerns e as companhias lutavam para estabelecer o seu domínio no gênero. Nesse período indígenas eram retratados de um modo positivo. Diretores frequentemente contratavam índios como atores. “Durante esse período índios se tornaram símbolo de integridade, estoicismo e confiabilidade”, escreve o historiador William K. Everson.
Os filmes de Deer se caracterizavam pela ausência dos típicos clichês de índios guerreiros hostis e atacantes de vagões de trem, ainda que alguns estúdios já apresentassem índios sob uma luz favorável.
Em 1913 Young Deer fora acusado de abuso por uma garota de 15 anos na Califórnia. A acusação o motivou a ir trabalhar no Reino Unido. Trabalhou em Londres em 1914 filmando suspense para a British and Colonial Films. Consta que tenha filmado documentários na França durante a Primeira Guerra Mundial.
Ao retornar aos Estados Unidos os filmes de western já não eram tão populares, o que diminuiu suas oportunidades de trabalho. Ele então foi dirigir uma escola para atores em São Francisco.
Em julho de 1930 viajou para o Arizona para se casar com Helen Gilchrist, que veio a falecer em 1937. Na década de 30 teria trabalhado ocasionalmente como diretor assistente em produções independentes de baixo orçamento, em filmes B e seriados.
James Young Deer morreu em Nova York em abril de 1946 e foi enterrado no Cemitério Nacional de Long Island, identificado como veterano da Guerra Hispano-Americana.

Filmografia:

Como diretor
Lieutenant Daring RN and the Water Rats (1924)
The Stranger (1920/I)
Who Laughs Last (1920)
The Savage (1913)
The Unwilling Bride (1912)
The Squaw Man's Sweetheart (1912)
Red Deer's Devotion (1911)
The Yaqui Girl (1910)
Cowboy Justice (1910)
An Indian's Gratitude (1910)
A Cheyenne Brave (1910)
The Red Girl and the Child (1910)
Under Both Flags (1910)
White Fawn's Devotion: A Play Acted by a Tribe of Red Indians in America (1910)
Red Wing's Gratitude (1909)
For Her Sale; ou Two Sailors and a Girl (1909)
The Falling Arrow (1909)

Como ator
Man of Courage (1922)
Under Handicap (1917)
Against Heavy Odds (1914)
The Unwilling Bride (1912)
Little Dove's Romance (1911)
Red Deer's Devotion (1911)
Young Deer's Return (1910)
The Red Girl and the Child (1910)
The Indian and the Cowgirl (1910)
The Cowboy and the Schoolmarm (1910)
Young Deer's Gratitude (1910)
The Ten of Spades; ou A Western Raffle (1910)
Young Deer's Bravery (1909)
Red Wing's Gratitude (1909)
The Mended Lute (1909)
The True Heart of an Indian (1909)

Como roteirista
Lieutenant Daring RN and the Water Rats (1924)
Neck and Noose (1919)
White Fawn's Devotion: A Play Acted by a Tribe of Red Indians in America (1910)

Texto traduzido e adaptado de:
https://en.wikipedia.org/wiki/James_Young_Deer
https://www.aisc.ucla.edu/news/files/Young%20Deer%20BL%20Article.pdf

No link a seguir se pode assistir a White Fawn's Devotion, um dos poucos filmes de Young Deer que sobreviveram, e que foi agregado ao National Film Registry da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos em 2008: 

https://www.youtube.com/watch?v=wmaa0dsjdCA